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Série provoca reflexão sobre o papel da escuta no cuidado com adolescentes

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“Adolescência” traz à tona os dilemas contemporâneos da juventude e convida pais e educadores a repensarem vínculos

A adolescência nunca foi uma fase simples. Mas, no mundo de hoje – marcado pela hiperconectividade, pelas relações líquidas e pela urgência emocional – os dilemas típicos dessa etapa se tornam ainda mais complexos. É nesse cenário que a série Adolescência surge como uma obra potente, sensível e profundamente reflexiva, provocando pais, educadores e profissionais da saúde mental a reavaliar seu papel no cuidado com os jovens.

A produção, que ganhou destaque por sua abordagem delicada e simbólica, retrata com rara profundidade o universo interno dos adolescentes, suas formas de se expressar e os silêncios que também falam. Em vez de buscar respostas rápidas ou generalizações fáceis, a série aposta na escuta – escuta genuína, atenta e afetiva – como fio condutor do diálogo entre gerações.

Para a pedagoga Deyse Campos, da Escola Interpares de Curitiba – PR, a série revela a adolescência como um “plano sequência sem fim”. 

“É como se essa fase se desdobrasse continuamente, misturando esperança e angústia, futuro e passado, identidade e incerteza. Desde sempre, a adolescência é esse tom azul acinzentado: parte de um futuro esperançoso, parte de um cimento que ancora a infância e as expectativas”, descreve.

Um dos episódios que mais chamou a atenção da educadora envolve uma metáfora poderosa: a psicóloga oferece ao adolescente um sanduíche com um sabor que ele gosta, mas recheado com pepino – ingrediente que ele não aprecia. 

“Essa pequena cena fala sobre os dissabores da vida, os limites da agradabilidade e a dificuldade de aceitar o que é desconfortável. O gesto de recusar o lanche carrega muito mais do que parece: ecoa suas dores, escolhas e fronteiras”, analisa Deyse.

Outro momento marcante traz o jovem recebendo leite com chocolate – bebida que remete à infância. Em um acesso de raiva, ele derrama tudo no chão. É um ato aparentemente simples, mas que revela a ruptura simbólica com a criança que ele já não é mais. “Ali, diante de nós, vemos que não estamos mais diante de uma criança. Mas também ainda não é um adulto. É a travessia”, pontua a pedagoga.

Com uma estética que combina delicadeza e desconforto, Adolescência se afasta dos estereótipos fáceis e mergulha nos dilemas reais dos jovens: solidão, pertencimento, corpo, identidade, escuta. 

A série – que já foi descrita por críticos como um “soco no estômago” – não tem pressa de explicar. Ela propõe sentir. E é nessa lentidão sensível que mora sua potência.

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