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Casais ainda juntos podem estar distantes: como o uso excessivo de telas afeta a intimidade

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Com mais de 9 horas diárias de uso de internet por pessoa, especialista explica que o Brasil vive uma crise de conexão afetiva dentro das próprias casas

Casais ainda dividem a mesma casa, a mesma cama, os mesmos compromissos, mas não o mesmo espaço emocional. A crescente dependência do celular e de outras telas tem enfraquecido o vínculo afetivo e sexual de milhares de relacionamentos no Brasil, que é um dos países com maior tempo média diário de uso de internet no mundo. Segundo o relatório Digital 2024 (We Are Social e Meltwater), são mais de 9 horas por dia e por pessoa. 

Para a terapeuta familiar Aline Cantarelli, que há mais de 15 anos atende casais em diferentes fases da vida, a tecnologia se tornou um dos principais fatores de desconexão emocional entre parceiros. “O celular está sempre no campo de visão. Isso fragmenta a atenção, a escuta e o afeto. A intimidade conjugal, que depende de presença real e emocional, está sendo substituída por uma hiperconexão com o que está fora”. 

Estudos da Universidade de Essex (Reino Unido) reforçam a percepção clínica da especialista. A simples presença de um smartphone sobre a mesa reduz a empatia entre duas pessoas que conversam, mesmo que o aparelho não esteja sendo usado. De acordo com Aline, a convivência digitalizada, marcada por notificações constantes, rolagens infinitas e estímulos externos, enfraquece o espaço privado das relações.

Segundo levantamento do Mobile Time em parceria com a Opinion Box (2023), 81% dos brasileiros admitem usar o celular enquanto estão com o parceiro ou parceira. Isso inclui momentos tradicionalmente reservados à convivência, como refeições, trajetos de carro e até a cama.

“Casais continuam dividindo espaço físico, mas já não se olham, não se tocam, não se escutam com profundidade. Tornaram-se bons administradores de tarefas, mas perderam a dimensão do vínculo afetivo e sexual. E isso acontece gradualmente, sem briga, sem escândalo, apenas pela ausência contínua de presença real”, explica Aline.

Para a terapeuta, a maior parte dos casais em crise hoje não sofre por falta de amor, e sim por excesso de interferências. A sobreposição de telas, demandas profissionais e comparação social cria um ambiente de dispersão e esgotamento.

O impacto também se estende à vida sexual. “O desejo exige espaço emocional, privacidade e atenção. Quando o tempo do casal é invadido por estímulos externos, o corpo responde com distanciamento. Não é que o amor acabou. O que acabou foi o investimento contínuo na relação”. 

Aline destaca que a solução não passa por uma “demonização da tecnologia”, mas por limites claros. Ela orienta práticas, como:

  • Momentos sem celular no fim do dia
  • Refeições com conversa ativa
  • Regras para o uso de telas no quarto
  • Resgate de atividades offline em conjunto

“A tecnologia é neutra. O problema é quando ela assume o lugar central da vida afetiva. Se o relacionamento já não ocupa tempo e intenção, ele se fragiliza. E isso acontece antes de qualquer traição ou separação formal. Começa no hábito”, conclui.

Quem é Aline Cantarelli?  

Aline Cantarelli é terapeuta familiar com mais de uma década e meia de atuação, especializada em relacionamentos conjugais, comunicação afetiva e reconstrução de vínculos no ambiente familiar. Professora de pós-graduação em Saúde Mental, Ciências da Mente e Orientação Familiar, alia uma formação sólida à experiência clínica com casais e famílias em diferentes fases e desafios da vida.

Apresentadora do podcast Uno&Due, conduz conversas sobre estilo de vida, saúde emocional, amadurecimento e relações afetivas contemporâneas. Também atua como embaixadora do Family Talks, iniciativa voltada à valorização das famílias e à defesa de políticas públicas de proteção familiar.

Sua abordagem terapêutica é pautada na escuta ativa, no amadurecimento emocional e na intencionalidade dos vínculos, promovendo reconexões profundas e sustentáveis. Além do trabalho clínico, Aline é palestrante e comunicadora com presença digital expressiva, onde compartilha reflexões e orientações sobre amor, rotina conjugal, maternidade, perdão e sexualidade com sensibilidade, profundidade e linguagem acessível.

Ao longo da carreira, já acompanhou mais de 6.000 mil famílias, sempre com foco em acolhimento e construção de soluções reais para os desafios afetivos da vida moderna. Sua fala é clara, empática e profunda — estabelecendo pontes entre o conhecimento técnico e a vida cotidiana dos casais brasileiros.

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