De reduzir a necessidade de medicamentos a melhorar o humor, prática regular de atividade física já é considerada tratamento por especialistas
A prática de atividade física vem ganhando cada vez mais espaço nos receituários médicos, sendo indicada como um verdadeiro medicamento capaz de atuar no controle e prevenção de diversas condições de saúde. Em alguns casos, a prática semanal de pelo menos 150 minutos de exercícios – conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) – pode até mesmo reverter determinados problemas, como melhorar o funcionamento dos sistemas cardiovascular, respiratório e endócrino, além de favorecer o humor e a qualidade de vida.
Segundo o médico especialista em Endocrinologia e Metabologia e professor do curso de Medicina do Centro Universitário UniBH, integrante do ecossistema Ânima, Fabiano Malard, profissionais de saúde que incluem os exercícios físicos na rotina dos pacientes demostram atenção ao que a ciência já comprova. “Evidências indicam que hábitos anti-sedentários reduzem os níveis de glicose e colesterol ruim no sangue, o que contribui para a prevenção de diabetes e doenças cardiovasculares. A atividade física também está associada à melhora de transtornos de saúde mental, principalmente depressão e ansiedade”.
Ainda de acordo com o especialista, o sedentarismo – postura oposta à prática regular de atividade física – está ligado ao aumento do risco de várias condições, entre elas alguns tipos de câncer, como mama e colorretal, além de maior probabilidade de desenvolver Doença de Alzheimer. “Atualmente os exercícios aeróbicos são parte importante do tratamento da obesidade, por exemplo. Eles auxiliam na melhora de várias condições associadas ao excesso de peso, como apneia do sono e esteatose hepática. A prescrição de atividade física também é fundamental para o alívio de sintomas relacionados à dores crônicas, como problemas ortopédicos, fibromialgia e enfermidades reumatológicas”, cita.
O endocrinologista ressalta, porém, que assim como qualquer medicamento, a atividade física também requer dosagem adequada, frequência e intensidades ajustadas ao perfil de cada paciente. “A idade e o condicionamento físico, de modo geral, devem ser considerados, assim como eventuais problemas de saúde. O exercício prescrito precisa ser tolerado, de modo a não sobrecarregar o sistema respiratório e cardiovascular de quem o pratica”, explica. Em alguns casos – especialmente quando há doenças cardíacas – são necessários exames prévios para liberar a prática com segurança.
O especialista afirma ainda que até mesmo a escolha do tipo de exercício deve estar alinhada ao objetivo do paciente: fortalecer determinada região em que há dor, controlar a obesidade ou realizar uma reabilitação cardíaca, por exemplo. “O mais importante é que aqueles que aderem a um programa de exercícios regulares conseguem controlar muitas comorbidades. Em alguns casos, o médico pode até reduzir ou suspender doses de determinadas medicações. E mesmo quando isso não acontece, a atividade física ajuda a evitar o aumento das doses ou a necessidade de novos remédios”, explica.
Por fim, o professor do UniBH chama a atenção para a relevância de campanhas públicas que não apenas incentivem a prática de exercícios, mas também ampliem a percepção da população sobre sua importância no dia a dia. “Seis em cada 10 adultos brasileiros não se exercitam no tempo livre nos níveis recomendados pela OMS. Por isso, é fundamental implementar ações de conscientização nas escolas, para que crianças e adolescentes desenvolvam o hábito desde cedo e cresçam com a mentalidade de que a prática é essencial. O Poder Público também pode ampliar a oferta de academias gratuitas em praças e parques, além de garantir a presença de educadores físicos e profissionais da área nas unidades básicas de saúde, tratando o tema como uma verdadeira questão de saúde pública.”