Comuns nos check-ups de rotina, análises laboratoriais ajudam a identificar desde alterações hormonais e renais até infecções crônicas, apontam especialistas
Por muito tempo associados apenas à prevenção de doenças cardíacas e metabólicas, os exames de sangue vêm ganhando papel cada vez mais central na medicina preventiva e personalizada. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 70% das decisões médicas dependem, direta ou indiretamente, de resultados laboratoriais. Isso significa que, em muitos casos, alterações sutis nos marcadores bioquímicos podem indicar o risco de doenças mesmo antes do aparecimento dos primeiros sintomas.
Segundo a cardiologista Tati Guerra, professora do curso de Medicina do Centro Universitário UniBH – integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima – os exames de sangue realizados durante check-ups de rotina têm papel essencial na detecção precoce de doenças prevalentes como diabetes, dislipidemias, distúrbios da tireoide e alterações renais. “Essas condições são muito comuns e, quando identificadas precocemente, permitem intervenções capazes de evitar complicações graves no futuro, como infartos, AVCs e insuficiências orgânicas”, afirma.
Colega de Tati no UniBH, o médico especialista em Endocrinologia e Metabologia, Fabiano Malard, complementa que o sangue funciona como uma “janela” para o funcionamento interno do corpo. “Além de medir glicose e colesterol, por meio do exame é possível avaliar a função do fígado, identificar anemias, carências nutricionais, doenças autoimunes e até infecções crônicas, como hepatites virais e HIV”, detalha.
Muitas dessas doenças são silenciosas, ou seja, evoluem sem sintomas perceptíveis. “O diabetes e as disfunções da tireoide, por exemplo, podem permanecer ocultos por anos e serem identificados apenas por meio de exames laboratoriais”, acrescenta Malard.

Avaliação individual é fundamental
Apesar de sua importância, ambos os especialistas alertam que o exame de sangue não substitui a consulta médica. “Dois pacientes com o mesmo resultado podem ter condutas completamente diferentes. Um jovem saudável e um paciente hipertenso e diabético, por exemplo, podem ter o mesmo nível de colesterol, mas riscos cardiovasculares muito distintos”, observa Tati.
Ainda de acordo com a cardiologista, interpretar resultados por conta própria é um dos erros mais comuns entre os pacientes. “Os chamados valores de referência nos exames são meros guias laboratoriais, ou seja, variam conforme cada laboratório. Portanto, não devem ser considerados critérios diagnósticos. Cada resultado deve ser analisado no contexto clínico do paciente — histórico, idade, hábitos e fatores de risco.”
Avanços tecnológicos ampliam o alcance diagnóstico
Fabiano Malard afirma que a tecnologia tem revolucionado a precisão e o alcance dos exames laboratoriais por meio de processos cada vez mais automatizados e que contam, inclusive, com o uso da inteligência artificial. “Essas inovações permitem identificar doenças raras e hereditárias, além de contribuir para decisões preventivas que envolvem não apenas o paciente, mas também seus familiares.”
Embora os avanços sejam animadores, Tati Guerra alerta para o que chama de “overdiagnosis” – diagnóstico de uma doença ou lesão que não causaria sintomas ou morte ao paciente. “É importante buscar o equilíbrio. Investigar demais pode gerar ansiedade e intervenções desnecessárias. O foco deve ser sempre em exames com propósito clínico claro, indicados por um profissional qualificado.”
Com que frequência fazer o exame de sangue?
A periodicidade ideal dos exames varia conforme a idade e o perfil de risco do paciente. Tati Guerra afirma que, em geral, pessoas saudáveis, acima dos 35 anos, devem realizar um check-up a cada três anos. Já para aqueles com histórico familiar de doenças, sobrepeso ou outros fatores de risco, o ideal é o acompanhamento em intervalos menores, determinados por um médico especializado.

