A Perkins&Will é um coletivo global de arquitetos e designers comprometidos a criar lugares onde a humanidade possa prosperar em harmonia com a natureza.
Com 33 estúdios em todo o mundo, temos como missão ajudar comunidades a se prepararem para — e a se protegerem de — choques naturais e provocados pelo homem, como furacões, tempestades extremas, secas, elevação do nível do mar, ondas de calor, incêndios florestais e terremotos.
Com as mudanças climátivas, tais situações se fazem cada vez mais frequentes e imprevisíveis, vitimando milhares de pessoas todos os dias. Diante deste cenário, lugares projetados, planejados e organizados para a resiliência se tornam essenciais, pois têm uma chance significativamente maior de resistir a traumas físicos e provocações sociais. Também são muito mais propensos a se regenerar e prosperar posteriormente.
Para projetar estruturas resilientes, precisamos conhecer as situações às quais estas serão expostas, por isso, a pesquisa é um pilar fundamental do nosso trabalho. Em São Paulo, temos nos debruçado a respeito dos desafios e alternativas para enfrentar as mudanças climáticas. Confira alguns dos artigos que desenvolvemos sobre o tema:
Arquitetura Resiliente
Eventos extremos deixaram de ser exceção: projetar com base em risco é hoje uma necessidade estrutural das cidades brasileiras.

As mudanças climáticas vêm intensificando eventos extremos em todo o mundo e, no Brasil, catástrofes relacionadas ao clima estão cada vez mais frequentes — enchentes recordes no Sul, secas severas na Amazônia, ondas de calor e até a ocorrência mais frequente de tornados em regiões onde antes eram raros. Esses episódios evidenciam um país mais vulnerável e pressionado por desequilíbrios climáticos que afetam diretamente a vida cotidiana: famílias desabrigadas, interrupção de serviços essenciais, perda de infraestrutura, colapso econômico local e ampliação das desigualdades sociais. Os impactos recaem sobretudo sobre populações que já vivem em condições precárias, reforçando a necessidade de reavaliar a forma como planejamos, construímos e ocupamos o território.
Nesse cenário, a arquitetura assume papel central tanto na adaptação às novas condições quanto na mitigação de impactos futuros. Projetar com base em risco — integrando mapas de inundação, ventos extremos e vulnerabilidades sociais — torna-se essencial para evitar tragédias previsíveis. Isso inclui elevar edificações em áreas suscetíveis à cheia, reforçar coberturas e ancoragens em regiões de ventos intensos, criar salas seguras em equipamentos públicos, privilegiar materiais reparáveis e considerar sistemas capazes de manter operações mínimas durante emergências.
Ao mesmo tempo, mitigar o impacto climático da construção civil exige reduzir o carbono incorporado em materiais, priorizar cadeias produtivas locais, ampliar o uso de madeira certificada e adotar princípios de economia circular. Soluções baseadas na natureza — como jardins de chuva, drenagem permeável, bacias de detenção e telhados verdes — podem aliviar enchentes, reduzir ilhas de calor e regenerar sistemas urbanos pressionados. Integradas ao planejamento municipal, essas estratégias ajudam cidades a funcionar como “esponjas”, dissipando o impacto de chuvas intensas e promovendo ambientes mais saudáveis.
A Perkins&Will se compromete em articular técnica, sustentabilidade e justiça social. Trata-se de projetar não apenas edifícios, mas sistemas territoriais mais seguros, regenerativos e socialmente equitativos.
Impacto Climático
Uma conversa com Ricardo Cardim, sócio da Cardim Paisagismo, sobre a situação de São Paulo em meio às crises climáticas que se intensificam
Em um momento de mudanças globais importantes, as crises climáticas vêm ocupando um espaço cada vez maior na mídia e no cotidiano. Os desequilíbrios ambientais causados pela emissão de gases poluentes, consumo de recursos não renováveis, desmatamento e urbanização descontrolada se intensificam e geram consequências desastrosas para metrópoles como São Paulo, que vem experimentando tempos de caos com tempestades perigosas, como as que marcaram o último verão.
Com os recentes episódios de enchentes, quedas de árvores e falta de energia elétrica ainda frescos na memória, conversamos com Ricardo Cardim – botânico e paisagista sócio de Alessandra Cardim na Cardim Paisagismo – para entender a situação de São Paulo em meio às crises climáticas que se intensificam, para além das alternativas de reversão do cenário nada otimista que se ergue diante dos nossos olhos.
Antes de qualquer coisa, o botânico reforça a importância de entendermos que há dois tipos de mudanças climáticas em andamento hoje nas cidades brasileiras: as globais e as regionais. Temos pouco poder sobre as primeiras, que são causadas pelos gases do efeito estufa e levam ao aquecimento global. Por outro lado, as mudanças climáticas regionais podem ser controladas – e até revertidas – com ações que estão ao nosso alcance enquanto sociedade organizada, uma vez que se devem, principalmente, à aridez das cidades brasileiras (escassez de áreas verdes e impermeabilização do solo) e desencadeiam fenômenos como a formação de ilhas de calor, que favorecem eventos climáticos extremos como as tempestades que atingiram a cidade de São Paulo nos últimos anos.
Ricardo Cardim compartilha um pouco da sua visão, preocupações e esperanças no enfrentamento das mudanças climáticas em cidades como São Paulo: “A questão das mudanças climáticas regionais seria muito facilmente resolvida com políticas públicas eficientes, que visam a arborização urbana e desimpermeabilização das cidades”, afirma Cardim, que também explica como isso funcionaria na prática: “com o plantio maciço de árvores nativas de grande porte, reorganização do sistema viário e implantação de jardins de chuva por toda a cidade, o que exige, principalmente, vontade política, pois são ações de baixo custo. Assim, nós conseguiríamos transformar São Paulo em uma grande floresta urbana, devolvendo o título de ‘cidade da garoa’, não mais das tempestades extremas”.
A região em que hoje está a capital paulista, originalmente, foi um local de extrema biodiversidade. “Aqui acontecia o chamado ‘encontro de floras’, a conjunção entre a Mata Atlântica Úmida do litoral, Mata Atlântica Seca do interior, as florestas de Araucária do sul e o Cerrado do centro oeste, além de muitos rios e várzeas, que favoreciam a oferta de alimentos diversos na região”, compartilha Ricardo Cardim.
A criação de “florestas de bolso” em pequenos terrenos de toda a cidade – como uma alternativa de restauração da Mata Atlântica – é uma sugestão do botânico paisagista, que defende o resgate da biodiversidade nativa como forma de aumentar a resiliência às mudanças climáticas e a capacidade de regulação do clima, o que beneficia a saúde física e mental da população.
Hoje, 471 anos depois, São Paulo é uma cidade com 90% de vegetação estrangeira, pouquíssimas áreas verdes e malha urbana impermeável, configuração que potencializa os efeitos das mudanças climáticas e pode inviabilizar a vida na cidade em pouco anos. Cardim olha para as tempestades dos últimos meses e antecipa o futuro que nos aguarda, caso as medidas urgentes não sejam tomadas: “a gente teve nesse verão três tempestades muito fortes que levaram as pessoas a ficarem sem energia elétrica por até uma semana. E isso tende a piorar, se tivermos tempestades severas a cada semana de verão — em semanas sucessivas —, teremos um colapso na economia da cidade, que, se ficar sem luz por semanas, terá sua estrutura comprometida. A conservação de alimentos será afetada e o funcionamento de escritórios vai ser interrompido, enfim, a cidade vai colapsar”.
Para evitar que tais situações se repitam, precisamos de políticas públicas alinhadas com o momento atual: aterramento de fiação elétrica, arborização abundante e bem cuidada, além de áreas permeáveis espalhadas por toda a cidade. O cenário ideal de arborização em São Paulo se concretizaria com a criação de uma secretaria municipal focada no plantio e manutenção das árvores, uma estrutura com equipe e recursos suficientes para mapear e cuidar de todas as áreas verdes da cidade. “Hoje não temos nenhum inventário que monitore as espécies, localização e estado de saúde das árvores, apenas um acompanhamento por satélite que não resolve os problemas que enfrentamos atualmente”, finaliza Ricardo Cardim.
Cidades Permeáveis
Como inovações arquitetônicas, urbanas e de design podem contribuir no enfrentamento aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Todo ano a cena se repete. Basta chegar o verão para que as cidades brasileiras sofram as consequências da temporada das chuvas. Hoje levantamos uma discussão importante sobre como a formação (e desenvolvimento) das nossas cidades potencializa problemas cada vez mais intensos em um cenário de crises climáticas — e como a arquitetura e o urbanismo podem contribuir ao priorizarem o bem-estar da população e do meio ambiente.
Tomando como exemplo a cidade de São Paulo — nascida entre rios e desenvolvida às custas de sua canalização —, citamos os frequentes episódios de tempestades que abalam a capital. Apesar de nada inéditas, tais cenas reforçam os prejuízos que a retificação e tamponamento dos cursos d’água, para além da ocupação das áreas de várzea e impermeabilização da cidade, trazem aos seus quase 12 milhões de habitantes.
Eventos catastróficos do tipo se repetem por todo o Brasil, com as enchentes no Rio Grande do Sul ainda marcadas em nossas memórias. O que podemos fazer para solucionar tais problemas diante de condições climáticas cada vez mais severas? Quais as alternativas de desenvolvimento sustentável podemos adotar para garantir um futuro digno à população?
Em uma realidade de alta urbanização e mudanças climáticas importantes, é preciso aplicar técnicas de desenvolvimento sustentável em todas as nossas atividades, especialmente no âmbito da arquitetura e do urbanismo, onde tratamos da construção, expansão e manutenção das cidades.
O aumento das temperaturas, elevação do nível do mar, inundações e secas (que geram falta de água) são desafios que se impõem ao nosso dia a dia e exigem mudança de posicionamento quanto a gestão das cidades. Diante deste cenário, as Cidades Permeáveis – ou cidades-esponja como também vêm sendo chamadas -, surgem como uma alternativa com potencial revolucionário.
Desenhadas para absorver um grande volume de água, as cidades-esponja buscam deter, limpar e infiltrar águas através de soluções baseadas em infraestrutura verde e planejamento urbano sustentável, que podem mitigar esses impactos e proporcionar benefícios significativos à população e ao meio ambiente.
Essa permeabilidade pode ser alcançada pela criação de espaços verdes, calçadas drenantes, pavimentos porosos, jardins de chuva, telhados verdes e parques alagáveis — soluções que permitem a infiltração da água, reabastecimento dos lençóis freáticos e redução da poluição de águas superficiais.
Além da melhoria na drenagem, as cidades permeáveis contribuem para a regulação térmica do ambiente urbano, uma vez que áreas verdes e superfícies permeáveis ajudam a reduzir o efeito de ilhas de calor, tornando o clima urbano mais ameno e agradável.
A adoção de estratégias para tornar as cidades mais permeáveis também traz benefícios para a biodiversidade e qualidade de vida dos cidadãos. Parques, áreas arborizadas e corredores ecológicos criam habitats para a fauna urbana e oferecem espaços de lazer e convivência à população. Esses elementos favorecem o bem-estar, encorajam a prática de atividades ao ar livre, fortalecem o vínculo entre as pessoas e a natureza e incentivam a economia verde e criativa.
Cidades pelo mundo como Jinhua e Xanguai, na China, Nova Iorque, nos Estados Unidos, Berlim, na Alemanha, e Copenhage, na Dinamarca, já aderiram a elementos que deram a elas características de cidades-esponja. Este é um movimento urgente, que prioriza soluções resilientes e sustentáveis para garantir qualidade de vida e ambientes saudáveis às futuras gerações.
Como escritórios focados em criar espaços onde a humanidade evolua em harmonia com a natureza, a Perkins&Will privilegia estratégias importantes para contribuir neste caminho rumo à sustentabilidade. A adoção de áreas verdes e permeáveis em projetos de diferentes escalas, aliada a técnicas de construção responsáveis e uso de materiais de baixo impacto, são os primeiros (e fundamentais) passos na nossa trajetória de combate às mudanças climáticas.