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Câncer de mama na gravidez: a luta silenciosa de mães que enfrentam o diagnóstico no momento mais delicado de suas vidas

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No Outubro Rosa, histórias de mulheres diagnosticadas com câncer de mama durante a gestação mostram a importância de apoio emocional e familiar para enfrentar esse desafio

Para muitas mulheres, a gravidez é um período de alegria e expectativa. Mas, para algumas, esse momento é marcado por um inesperado diagnóstico de câncer de mama. Foi o que aconteceu com uma mulher de 36 anos, grávida de seu primeiro filho, que recebeu a notícia de que estava com câncer no oitavo mês de gestação. Ela, que optou por não se identificar, compartilhou como essa descoberta inesperada mudou sua trajetória materna.

“Eu estava no banho quando senti um caroço no seio. Meu marido disse que provavelmente era só leite, mas dentro de mim sabia que havia algo errado. Depois de alguns exames, os médicos confirmaram o diagnóstico, mas optaram por esperar até o nascimento do bebê. Quando o meu filho nasceu, veio o choque: eu tinha câncer”, conta. 

Segundo a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, esse tipo de notícia durante a gestação traz um peso emocional enorme. “O câncer muda completamente a experiência da maternidade. Embora os estudos ainda não indiquem uma prevalência segura, estima-se que uma a cada três mil a dez mil mulheres seja diagnosticada durante a gestação ou no primeiro ano após o parto. Isso afeta tanto a saúde física quanto emocional da mulher, que precisa lidar com questões de identidade, autoestima e a própria maternidade”, explica. 

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres no Brasil, com mais de 73 mil novos casos por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. “Hoje, vemos uma tendência de mulheres acima dos 30 anos engravidarem, o que, infelizmente, eleva o risco de câncer de mama. O pré-natal é importante não só para a saúde do bebê, mas também para cuidar da mãe”, comenta.

A interrupção da amamentação é um luto dentro do luto

Logo após o nascimento de seu filho, com apenas três dias de vida, a mãe teve de enfrentar outro desafio: não poderia amamentar por causa do tratamento. “Eu sonhava em amamentar. Quando me disseram que não seria possível, parecia que eu estava perdendo algo muito importante”, desabafa.

A psicóloga perinatal explica que muitas mães se sentem frustradas por não poderem amamentar. “Muitas mães não podem amamentar, seja por causa do câncer, prematuridade ou outros motivos. A relação com o bebê pode ser construída de outras formas. Gestos simples, como o carinho, o olhar e o cuidado diário, são essenciais para criar uma conexão profunda entre mãe e filho”. Rafaela Schiavo sugere que, em casos como o diagnóstico após o nascimento, as mães conversem com o bebê e expliquem, de maneira carinhosa, o motivo dessa mudança, para ajudar a criar um ambiente de confiança e afeto.

Durante o tratamento, a mãe relatou que o apoio do marido foi fundamental. “Ele cuidou de mim e do nosso filho como se estivesse no controle de tudo. Foi meu maior suporte. Quando cheguei da minha primeira sessão de quimioterapia e peguei nosso filho no colo, o sorriso dele me deu forças para continuar lutando”, conta. 

Rafaela também reforça que ter essa rede de apoio é um pilar importante no processo de recuperação. “Elas precisam de pessoas ao redor que ajudem nas tarefas do dia a dia e ofereçam apoio. Até mesmo o parceiro e os familiares são afetados emocionalmente, e é importante que todos tenham um espaço de acolhimento durante esse processo”. 

A importância de detectar cedo

A psicóloga perinatal também aponta algumas orientações para as mães lidarem com o diagnóstico durante ou após a gestação: 

  • Realize exames preventivos: Esse é um momento crucial para cuidar da sua saúde. Exames como o ultrassom das mamas e mamografia são opções para detectar qualquer alteração.
  • Fique atenta aos sinais do corpo: Se perceber algo diferente, como um nódulo no seio, procure orientação médica o quanto antes. A detecção precoce aumenta as chances de um tratamento eficaz.
  • Converse sobre o histórico familiar: Se há casos de câncer de mama na sua família, compartilhe essa informação com o seu médico. Isso pode ser importante para que ele acompanhe sua saúde com mais atenção.
  • Busque apoio emocional: Conte com uma rede de apoio formada por familiares, amigos e profissionais de saúde. Não enfrente o câncer sozinha.

Por fim, Rafaela reforça que o pré-natal psicológico pode ser um valioso aliado para ajudar as mulheres nesse período. “O acompanhamento psicológico especializado, principalmente por profissionais perinatais, ajuda essas mães a elaborar o luto, a aceitar o diagnóstico e a criar uma nova relação com seu corpo e sua maternidade”, conclui.

Quem é Rafaela Schiavo?
Profª-Dra. Rafaela de Almeida Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.

Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade. 

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