Revisão de literatura aponta barreiras na inclusão e permanência de estudantes autistas no ensino superior e destaca a urgência de adaptações institucionais
O ingresso na universidade é uma fase marcada por inúmeras mudanças e exigências, acadêmicas, sociais e comportamentais. Para estudantes autistas, no entanto, esse processo pode ser ainda mais desafiador, exigindo adaptações específicas e maior sensibilidade por parte das instituições de ensino.
Essa é a reflexão central do artigo “Desafios de universitários autistas: da inclusão e adaptação ao adoecimento no ensino superior uma revisão de literatura”, publicado recentemente pela psicóloga e pesquisadora Dra. Marina Zotesso. O estudo analisa, a partir de uma revisão de literatura, os principais obstáculos enfrentados por jovens autistas em universidades brasileiras e os fatores que contribuem para o adoecimento psicológico nesse contexto.
A pesquisa identificou um aumento expressivo no número de estudantes autistas no ensino superior, impulsionado por políticas públicas de inclusão, avanços na detecção precoce e maior acesso à educação básica. Apesar disso, ainda há baixa representatividade desses alunos nas universidades e grandes desafios para sua permanência e sucesso acadêmico.
Esse cenário também fica evidente no próprio processo metodológico da revisão realizada pela pesquisadora: dos 1.603 estudos encontrados inicialmente, apenas cinco atendiam aos critérios e abordavam diretamente a experiência de universitários autistas. O número reduzido de publicações revela como essa população permanece pouco investigada, reforçando a invisibilidade e a carência de dados sobre suas vivências no ensino superior. Isso indica que, além das barreiras no cotidiano universitário, há também um apagão de informações que dificulta avanços na formulação de políticas e práticas inclusivas.
Segundo a autora, os achados apontam para a necessidade urgente de ações efetivas de inclusão, desde ajustes curriculares e acessibilidade comunicacional até a formação de docentes e equipes técnicas capazes de compreender as especificidades do espectro autista. “Não basta garantir o ingresso; é preciso criar ambientes que favoreçam a permanência e o bem-estar desses estudantes”, destaca Marina Zotesso. Para ela, reconhecer e atender essas necessidades não é um diferencial, mas um compromisso alinhado ao direito à educação de qualidade para todos.
O artigo completo está disponível em: https://ojs.cuadernoseducacion.com/ojs/index.php/ced/article/view/9850/6568

Sobre a autora:
Marina Zotesso é Doutora e Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Pós-doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP) e professora no Instituto Lahmiei da UFSCar. Atua há mais de uma década como terapeuta clínica sob o viés comportamental, além de ser consultora e supervisora em ABA. Sua pesquisa e atuação concentram-se em Psicologia Comportamental, com ênfase em autismo e adolescência no espectro.

