Por Renato Lisboa
Em um contexto mundial marcado por antagonismos e embates de narrativas cada vez mais radicalizadas, a humanidade testemunha a falência dos modelos tradicionais de comunicação interpessoal, que privilegiam o enfrentamento em detrimento do entendimento.
Essa lógica combativa, mesmo nociva, possui respaldo na ciência, pois do ponto de vista neurocientífico, a comunicação polarizadora ativa mecanismos primitivos de defesa no cérebro, impedindo o processamento racional de informações.
Quando nos comunicamos através de ataques e defensivas, ativamos a amígdala cerebral, responsável pelas reações de luta e fuga. Isso literalmente impede o córtex pré-frontal, área da razão e do diálogo, de funcionar adequadamente.
É nesse cenário preocupante que a Comunicação Regenerativa surge não como uma alternativa, mas como uma necessidade urgente. Esta abordagem inovadora propõe uma reformulação completa das interações no espaço público, posicionando a qualidade do diálogo como fundamento para a reconstrução do tecido social fragilizado pela polarização ideológica.
Ela permite acionar os sistemas de conexão e empatia, criando condições neurobiológicas para o diálogo produtivo. Um exemplo prático pode ser observado nos debates políticos: enquanto o padrão atual busca “vencedores” e “perdedores” em qualquer conversa, a Comunicação Regenerativa propõe círculos de diálogo onde todas as vozes são ouvidas sem julgamento.

Outra conduta indicada é a validação das emoções por trás das posições políticas: reconhecer o medo, a frustração ou a esperança que alimenta determinadas visões de mundo. Isso não significa concordar com as posições, mas compreender suas origens emocionais.
Reformular perguntas também é um dos melhores direcionamentos para transformar discussões acaloradas em trocas de experiências humanas. Em vez de perguntar “Por que você defende essa ideia errada?”, podemos questionar “Que experiência de vida levou você a esta conclusão?”.
A solução para o dilema que vivemos hoje não é simples, claro. Ela exige líderes e cidadãos dispostos a trocar a retórica do confronto pela coragem do diálogo genuíno. Exige paciência em um mundo acelerado e humildade em tempos de certezas absolutas.
Diante da polarização que nos fragiliza, talvez a maior força não esteja em erguer muros mais altos, mas em aprender a cultivar pontes. A Comunicação Regenerativa representa um caminho transformador para restaurar a saúde do debate democrático, substituindo a gramática do conflito pela sintaxe da compreensão mútua.
Num contexto de radicalização crescente, esta pode ser a ferramenta mais revolucionária para reinventar nossa capacidade de viver juntos na diferença.
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Renato Lisboa é neuropsicanalista e autor de “Comunicação Regenerativa – Tecer diálogos que curam, conectam e transformam o mundo”