Em um país onde quase metade das mães solo são pretas ou pardas, conciliar maternidade e carreira continua sendo uma batalha desigual — marcada por racismo estrutural, sexismo e falta de políticas de apoio.
Ser mãe no Brasil ainda é, muitas vezes, sinônimo de penalização profissional. Para mulheres negras e pardas, essa equação é ainda mais cruel. Segundo dados da PNAD Contínua (IBGE, 2023), mais de 11 milhões de lares brasileiros são chefiados por mulheres solo — e, entre elas, 63% se autodeclaram pretas ou pardas. Essas mulheres acumulam rotinas exaustivas e enfrentam barreiras históricas que dificultam o avanço em suas carreiras, mesmo quando possuem alta qualificação.
A maternidade, que deveria ser reconhecida como um ativo social, é muitas vezes encarada como um entrave por empregadores. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostra que 48% das mulheres são demitidas até dois anos após a licença-maternidade. No caso de mulheres negras, a sobreposição de preconceitos — de gênero, raça e maternidade — intensifica as exclusões.
“Muitas mães negras são forçadas ao empreendedorismo por falta de oportunidades reais no mercado formal. Mas isso não significa liberdade plena. O racismo institucional segue impondo limites”, afirma Alcione Balbino, especialista em diversidade e inclusão, mentora e fundadora da Pretas Pardas Potentes. Ela fala com propriedade: é mãe solo, ex-executiva do setor corporativo, e encontrou no empreendedorismo uma forma de criar sua filha e manter sua autonomia após um burnout e um divórcio.
Além da carga mental que acompanha a maternidade, essas mulheres lidam diariamente com a invisibilidade em espaços de poder e com a escassez de políticas corporativas inclusivas. “É preciso ampliar a discussão sobre a interseccionalidade quando falamos de equidade de gênero. Não há avanço real se não considerarmos o recorte racial”, defende Alcione.
O desafio é estrutural, mas o movimento de mães negras em direção à liderança é um ato de resistência. E, ao mesmo tempo, de reinvenção. Para muitas, o caminho passa por mentorias, redes de apoio e espaços que promovam pertencimento.
Neste Dia das Mães, a data pode ser também uma oportunidade de reflexão sobre quem pode ser reconhecida como líder — e quais estruturas ainda precisam mudar para que todas as mães, de fato, possam prosperar.
Sobre Alcione Balbino:
Alcione Balbino é formada em Tecnologia da Informação pela FIAP e pós graduada em Gestão de Negócios (ESPM), Gestão de Diversidade e Inclusão nas Organizações (PUC Minas) e especializada em Gestão de Pessoas e Liderança (Conquer).
Mãe da Lorena, Alcione construiu uma carreira de sucesso dentro do mercado corporativo e fez a diferença dentro de cada organização por onde passou. Depois de um burnout e um divórcio, Alcione saiu do modelo tradicional de carreira e partiu para o empreendedorismo. “Pretas Pardas Potentes” é a empresa fundada por Alcione que trabalha a diversidade em seus diferentes âmbitos dentro das organizações, com o propósito principal de promover a diversidade racial e aumentar a participação de mulheres negras (pretas e pardas) em cargos de liderança ou de destaque.
Mentora de mulheres que desejam encontrar suas potências e trabalhar em seu autoconhecimento, Alcione já foi consultora e palestrante de grandes empresas como Cacau Show, Heineken, Ford e hoje coordena o “Power Woman Mentory”. Foi uma das mulheres convidadas para integrar o evento “Body”, onde compartilhou a sua história sobre diversidade.