A crescente exposição às redes sociais e o uso cada vez mais frequente de filtros digitais têm gerado novas reflexões sobre a busca pela cirurgia plástica. Impulsionadas por padrões estéticos muitas vezes irreais e pela constante comparação com influenciadores digitais, muitas pessoas passam a considerar intervenções cirúrgicas como um caminho para atingir o ideal de beleza projetado nas plataformas virtuais.
O uso das redes sociais no Brasil tem crescido exponencialmente. Pesquisas recentes mostram que 89,8% dos usuários de internet no país no Instagram, 86,8% no Facebook e 65,9% no TikTok. Além disso, o número total de contas de brasileiros nas redes sociais atingiu 144 milhões em 2023, um aumento de 2 milhões em relação ao ano anterior. Esses dados refletem como o ambiente digital tem se tornado cada vez mais presente na vida das pessoas, ampliando a exposição a padrões estéticos idealizados e filtrados.
A discussão sobre o tema é cada vez mais pertinente, à medida que cresce o número de jovens e adultos que recorrem à cirurgia plástica motivados por comparações com influenciadores digitais. Para além dos efeitos físicos, a decisão por uma intervenção estética deve ser tomada com consciência e acompanhada por uma avaliação psicológica adequada.
O cirurgião plástico Dr. Daniel Nunes alerta sobre os impactos que essa tendência pode ter na saúde física e emocional dos pacientes. Segundo ele, é crucial que as pessoas entendam a diferença entre os resultados de uma cirurgia real e as imagens modificadas digitalmente, que nem sempre refletem a realidade.
“Apesar da grande evolução ocorrida na Cirurgia Plástica Facial nos últimos anos, responsável pela obtenção de desfechos ainda melhores, percebemos também um grande aumento na expectativa dos pacientes. A constante exposição nas redes sociais ampliou insatisfações estéticas pré-existentes e também colocou os pacientes em contato com imagens muitas vezes irreais, manipuladas e com filtros. Com isso a expectativa de resultado – que sempre é mais alta que a obtida na cirurgia – pode levar a frustrações importantes. Cada vez mais, a conversa clara e direta com o cirurgião plástico assistente, sobre os detalhes do procedimento, fica mais importante para o sucesso da cirurgia” explica o cirurgião plástico Daniel Nunes, ex-aluno do Professo Ivo Pitanguy.
Neste contexto, uma tendência observada nos últimos anos é a inclusão de um profissional de saúde mental, como um psicólogo, no pré-operatório das Cirurgia Plásticas. “Isso é de suma importância para garantir que o paciente esteja emocionalmente preparado para o procedimento” explica o Dr. Daniel Nunes. O acompanhamento psicológico ajuda a esclarecer expectativas e evitar que a cirurgia seja uma solução imediata para questões de autoestima exacerbadas pelo uso excessivo das redes sociais.
“Se a expectativa da pessoa não estiver coerente com a realidade a frustração pode ser grande. O psicólogo ajuda neste processo antes ou após a cirurgia, alinhando expectativa e realidade. O ideal é que seja antes. Os filtros e edições de imagem mostram um perfil muitas vezes inatingíveis e na ânsia de serem aprovadas aos padrões sociais elas buscam na cirurgia estética a realização daquilo que não está bem internamente”, conta Juliane Verdi Haddad, Psicóloga cognitivo comportamental e terapia do Esquema. Especialização em Transtornos de ansiedade.
A consultoria de imagem também desempenha um papel importante ao ajudar as pessoas a se aceitarem e entenderem o que pode ser valorizado em sua aparência. A fashion stylist Roze Motta explica que, muitas vezes, o trabalho de estilo pode evitar a busca por cirurgias motivadas por insatisfações superficiais.
“Nenhum corpo é completamente simétrico. A consultoria de imagem ajuda a cada pessoa a entender sua singularidade, podendo disfarçar o que a incomoda e valorizar o que mais gosta. Muitas vezes, a pessoa quer usar uma roupa que viu em uma modelo ou nas redes sociais, onde tudo parece perfeito, mas a realidade é diferente. Estudei para entender como ajudar cada pessoa a identificar o que ela tem de melhor e a trabalhar isso de dentro para fora, promovendo o autoconhecimento e a aceitação,” comenta Roze Motta.
Conforme as redes sociais continuam a influenciar percepções de beleza, é fundamental que o público e os profissionais de saúde estejam atentos aos impactos que isso gera. Cirurgia plástica deve ser uma escolha consciente e responsável, baseada em desejos pessoais genuínos e não em pressões externas, sociais ou comparações irreais. O papel dos especialistas é promover a saúde e bem-estar em todas as suas dimensões, sempre com ética e discernimento. “Quando o paciente faz uma cirurgia plástica muito bem-preparado, onde o resultado é discutido claramente e as expectativas são trazidas para a realidade, a satisfação é enorme. O Contrário, infelizmente também é verdadeiro. Por isso a importância de escolher profissionais sérios e comprometidos. O combinado… nunca sai caro” finaliza o cirurgião plástico, Dr. Daniel Nunes.