quarta-feira, novembro 12, 2025

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Astrologia e tarot ganham força como práticas de autoconhecimento em rotina acelerada

A rotina acelerada da vida moderna não eliminou uma necessidade ancestral: encontrar sentido além do que é visível. Esse movimento ganha força em diferentes camadas sociais, de executivos e criativos sob pressão a estudantes e buscadores espirituais, que recorrem a práticas como o tarot e à astrologia digitalizada para equilibrar corpo e mente.

O interesse não é apenas perceptível no dia a dia, mas também nos números. De acordo com levantamento da Sala Digital, a procura por “tarot online” liderou as buscas espirituais no Brasil no último ano, à frente de astrologia, mapa astral e numerologia. O dado confirma uma tendência crescente: práticas antes associadas ao campo místico passaram a ser vistas como ferramentas de autoconhecimento e equilíbrio emocional.

Nesse cenário, surgem novas formas de traduzir o esotérico para o cotidiano. Aplicativos como o Cosmy, que unem inteligência artificial e astrologia, procuram transformar a espiritualidade em algo acessível e integrado às rotinas. O impacto foi imediato. No primeiro dia de lançamento, o app registrou 51,1 mil instalações, alcançou o primeiro lugar no iOS no Brasil e em Portugal, superou TikTok, Instagram e até o ChatGPT e entrou no Top 10 em oito países simultaneamente, tornando-se o aplicativo de astrologia mais baixado do mundo naquela data.

A head de marketing Ludmilla Veloso explica que a proposta vai além da curiosidade astrológica: “Quando pensamos em trazer a astrologia como autocuidado, é sobre dar às pessoas a possibilidade de se conhecerem melhor. Esse autoconhecimento permite criar hábitos e formas reais de melhorar a vida”.

Na prática, o Cosmy oferece mensagens personalizadas com base nos movimentos astrais, além de exercícios introspectivos e análises de compatibilidade. A ideia é que a espiritualidade seja incorporada como um ritual de cuidado, e não como promessa de destino fixo. O Brasil, por sua vez, tem papel estratégico nessa expansão. “Os brasileiros são muito ativos e construtivos no feedback. Muitas vezes, em uma simples avaliação, já deixam sugestões que se transformam em novas funcionalidades dentro do app”, afirma Ludmila. Além da participação intensa, a presença de profissionais brasileiros na equipe de design e marketing garante que a experiência dialogue com aspectos culturais da América Latina.

Essa adaptação da espiritualidade ao digital não elimina os rituais tradicionais. O tarot, antes restrito a imagens de filmes, hoje é utilizado por terapeutas e artistas como ferramenta de reflexão. Para a taróloga Rafaela Lacerda, o baralho não deve ser visto como um oráculo que prevê o futuro, mas como um espelho simbólico da alma. “Quando estamos diante de incertezas e pressões, o tarô não traz previsões prontas. Ele oferece clareza, mostra onde estão os bloqueios e quais caminhos podemos despertar em nós para atravessar aquele momento”, explica.

O ambiente em que a leitura acontece também influencia a experiência. Rafaela observa que o atendimento presencial costuma atrair quem busca acolhimento e senso de comunidade, enquanto o online pode ser até mais confortável para muitos. Segundo ela, “nas consultas virtuais, as pessoas estão em casa, num espaço seguro, e isso facilita a abertura emocional para olhar cada questão com calma”.

Mais do que curiosidade, o que mantém as pessoas conectadas ao tarot é a busca contínua por autoconhecimento. A especialista nota que o primeiro contato pode até ser motivado pelo desejo de descobrir algo novo, mas o retorno frequente às cartas nasce da necessidade de orientação e compreensão de si mesmo. Na sua visão, “o tarô se torna um espelho, devolvendo verdades que já estavam dentro da pessoa, mas precisavam ser ditas com símbolos e imagens que tocam a alma”.

Essa dimensão simbólica também permite incorporar pequenas práticas no cotidiano. A taróloga recomenda, por exemplo, usar um arcano específico como inspiração em dias desafiadores ou retirar uma carta diária para refletir sobre decisões. “Até mesmo se perguntar ‘se eu fosse tal arcano, como eu agiria agora diante desta situação?’ já abre espaço para que as respostas emerjam de dentro, pois elas já estão aí e só precisam ser acessadas”, orienta Rafaela.

Para Ludmilla, essa ponte entre o místico e o tecnológico é justamente o que torna o fenômeno atual relevante: “Vivemos em um mundo utilitário, mas a espiritualidade segue sendo uma forma de nos reconectar conosco mesmos. Quando a tecnologia entra como mediadora, não é para substituir rituais, mas para abrir novas portas para o autoconhecimento”.

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